terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Concessionária vai lucrar R$ 2,16 trilhões com Rodoanel

Foto: Edson Dário

Montante da arrecadação, em 30 anos de contrato, é 864 vezes maior do que valor que será investido. E isso sem levar em conta os reajustes anuais do pedágio

Guilherme Lisboa


R$ 2,16 trilhões. Este é o valor que a concessionária RodoAnel, responsável pela administração do trecho Oeste do Rodoanel Mário Covas, vai embolsar com a cobrança do pedágio, durante os 30 anos de vigência do contrato de concessão. O pedágio começou a ser cobrado na última quarta-feira, com tarifa de R$ 1,20 para veículos simples. Já caminhões e ônibus pagam o mesmo valor por cada eixo que compõe o veículo.

O início da cobrança (em 13 praças de pedágio, implantadas em todos os acessos do trecho) foi marcado por lentidão no tráfego e por protestos, mas também foi marcado pelo anúncio do lucro diário da empresa com a arrecadação da tarifa: cerca de R$ 200 mil por dia. O trecho registra passagem diária de 145 mil veículos, sendo 78% de carros de passeio e o restante de caminhões e ônibus. Assim, a média de veículos multiplicada pela tarifa simples resulta em R$ 174 mil de arrecadação por dia, valor que atinge R$ 200 mil devido aos eixos excedentes dos veículos pesados.

Se os pedágios continuaram rendendo R$ 200 mil por dia, a concessionária vai lucrar R$ 6 milhões por mês. Isto significa R$ 72 milhões anualmente. E, levando em consideração os 30 anos de vigência do contrato de concessão, assinado entre a empresa e o Governo do Estado, o lucro salta para R$ 2,16 trilhões ao término das três décadas.

864 vezes mais
O cálculo que prevê a arrecadação de R$ 2,16 trilhões durante o período de concessão leva em conta o rendimento da tarifa atual. Considerando os reajustes anuais de pedágio, o valor total a ser embolsado pela empresa é muito mais alto.

Ainda assim, o valor é 864 vezes maior do que os valores pagos pela concessão e previstos para investimentos, que somam R$ 2,46 bilhões. A outorga pela concessão é de “apenas” R$ 2 bilhões, e pode ser paga para o Estado em até dois anos. Já os investimentos somam R$ 465 milhões em obras de melhoria dos acessos e dos pavimentos, além da construção de vias marginais e passarelas.

Dinheiro de quem?
A aprovação para a cobrança do pedágio, pelo governador José Serra (PSDB), ainda gera polêmica. Isso porque o tucano descumpriu a promessa do seu colega de partido, o ex-governador Mário Covas, de que o anel viário seria construído para interligar as principais rodovias estaduais com o critério de que não houvesse cobrança de pedágio.

Além de “esquecer” a promessa, a atual gestão propôs que a tarifa do pedágio fosse de R$ 4. Após manifestações de parlamentares, o governo recuou e apresentou a tarifa de R$ 3, mas durante o leilão o martelo foi batido em R$ 1,20.

Agora, a concessionária vai obter altos lucros com o pedágio no trecho Oeste do Rodoanel, que foi construído com dinheiro público. O trecho foi entregue em outubro de 2002, mas as obras começaram em 1998. A construção custou R$ 1,3 bilhão aos contribuintes, sendo R$ 902,5 milhões vindos dos cofres estaduais e R$ 397,5 milhões financiados pelo Governo Federal.

Matéria publicada no Diário da Região em 23/12/08: http://www.webdiario.com.br/?din=view_noticias&id=28636&search=pedágio%20guilherme%20lisboa

Nenhum comentário:

Postar um comentário